O dólar subiu para R$ 5,42 e o Ibovespa registrou queda, refletindo o aumento do risco fiscal e a deterioração das expectativas dos economistas.

Redação17/06/2024

O Ibovespa iniciou a semana em queda e o dólar atingiu novas máximas desde o início do ano passado, fechando a segunda-feira (17) em alta. O cenário fiscal do Brasil se destacou negativamente, ofuscando o clima positivo observado nas bolsas globais.

O mercado voltou a perceber um cenário de inflação e juros mais pressionados, reacendendo temores sobre a perda de controle dos gastos públicos pelo governo federal. Isso ocorre em uma semana marcada pela forte expectativa quanto à possível interrupção do atual ciclo de queda da Selic pelo Banco Central (BC).

Diante desse cenário, o principal índice do mercado doméstico, o Ibovespa, recuou 0,44%, atingindo 119.137 pontos, o pior patamar desde novembro de 2023. O desempenho negativo foi influenciado pela queda de 0,4% das ações da Vale (VALE3), refletindo uma nova baixa no preço do minério de ferro. Em contrapartida, o setor financeiro mostrou resiliência, com alta generalizada, destacando-se os avanços de 2,44% das ações do Itaú (ITUB4) e 1,83% da B3 (B3SA3).

A cautela em relação ao cenário doméstico impulsionou o dólar, que fechou a sessão com alta de 0,76%, sendo negociado a R$ 5,422 na venda. Este movimento dá continuidade ao ciclo de valorização do câmbio, que já soma quatro semanas consecutivas de alta em relação ao real, situando a moeda no nível mais pressionado desde janeiro do ano passado, no início do governo Lula.
Especialista em mercado de capitais e sócia da AVG Capital, destaca que o cenário fiscal continua pressionando o humor dos investidores devido a questões não resolvidas nos últimos dias. “O governo, com um posicionamento desarticulado e embates com o Congresso, faz com que os investidores fiquem mais receosos e tenham menor apetite ao risco. Temos muitos estrangeiros saindo da bolsa, o que também aumenta a volatilidade dos papéis”, afirma.

O mercado piorou suas expectativas para a economia nos próximos meses, projetando juros e inflação mais altos até o final do ano, conforme dados do Boletim Focus publicado na manhã desta segunda-feira. Atualmente, a taxa de juros está em 10,5% ao ano. Segundo o relatório, esse patamar deve permanecer inalterado, diferente do relatório anterior, que estimava uma taxa de 10,25% em 2024.

Esse movimento indica o fim do ciclo atual de cortes de juros iniciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) em agosto do ano passado, quando a taxa estava em 13,75% ao ano. Desde então, ocorreram sete cortes consecutivos, sendo seis de 0,50 ponto e o último, em maio, de 0,25 ponto.

O pessimismo com uma política monetária mais frouxa surge após ações do governo que deterioraram a percepção sobre a agenda de compromisso fiscal e cortes de gastos. Na semana passada, a medida provisória (MP) que compensava a desoneração da folha foi devolvida pelo Congresso ao governo, exacerbando as preocupações. Desde então, a oposição do setor produtivo e a pressão por medidas que foquem na redução de gastos públicos aumentaram significativamente.

Outro indicador que passou por revisão foi o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país. Para este ano, a previsão é de uma alta de 3,96%, enquanto na semana anterior, a expectativa era de um avanço de 3,90%. Para 2024, a inflação deve subir para 3,80%. O centro da meta oficial para a inflação em 2024, 2025 e 2026 é de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Em relação ao dólar, as expectativas também subiram, com a moeda sendo projetada a R$ 5,13. Neste ano, o dólar teve uma forte valorização em relação ao real, refletindo as preocupações econômicas e fiscais.

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