A crise financeira na Santa Casa continua, mesmo depois do repasse público

Redação 08/04/2025

A situação da Santa Casa de Campo Grande, maior hospital de Mato Grosso do Sul, reflete um cenário de grande crise financeira, apesar dos repasses milionários provenientes tanto do Governo do Estado quanto da Prefeitura Municipal. A alegação de níveis críticos de superlotação e a recusa em admitir novos pacientes, feita pelo hospital em março de 2025, destaca a gravidade do problema, que se agrava mesmo com o aporte de recursos.

A Prefeitura de Campo Grande, que já repassava R$ 5 milhões mensais, anunciou um aumento de R$ 1 milhão, elevando o valor para R$ 6 milhões mensais. Já o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES), mantém um repasse de R$ 9 milhões mensais, mas também cedeu um aporte adicional de R$ 25 milhões, que será pago em três parcelas até junho, com a primeira a ser depositada até 20 de abril.

Mesmo com esses consideráveis repasses financeiros, o hospital ainda enfrenta sérias dificuldades, colocando em evidência não apenas a alta demanda por serviços de saúde, mas também possíveis problemas de gestão, planejamento e estruturação do sistema de saúde local. A pressão sobre os órgãos públicos para encontrar uma solução para essa crise deve continuar, dada a importância vital da Santa Casa para a população do estado.

Porém, mesmo com os novos repasses, a Santa Casa continua em crise.

O hospital está enfrentando uma situação bem difícil de superlotação e dificuldades financeiras. Vários fatores estão afetando a capacidade de atendimento e o fluxo de trabalho, como:

1. Superlotação nas alas:

• Ala verde: capacidade para 7 pacientes, mas com 45 internados.

• Ala vermelha: capacidade para 6 pacientes, mas com 19 internados.

2. Ortopedia sobrecarregada:

• 118 pacientes internados na ortopedia, sendo 50 aguardando pela primeira cirurgia. Isso provavelmente está gerando uma fila de espera e atrasos significativos nos procedimentos.

3. Atrasos em pagamentos:

• Pagamentos de médicos PJ e fornecedores de insumos estão atrasados, o que pode impactar na continuidade dos serviços, falta de materiais e até na motivação e retenção dos médicos.

• Por outro lado, os pagamentos dos funcionários CLT, como enfermeiros, técnicos de enfermagem e limpeza, estão em dia.

4. Suspensão de procedimentos:

• Atendimentos ambulatoriais, cirurgias eletivas e transplantes renais estão suspensos nas especialidades de ortopedia, cirurgia cardíaca e urologia. Isso pode ser uma resposta à falta de recursos e à necessidade de priorizar atendimentos de urgência.

5. Pacientes residentes:

• O hospital tem uma média de 4 pacientes residentes, ou seja, pessoas que estão internadas por mais de 90 dias, aguardando procedimentos ou cirurgias que a instituição não pode pagar, o que gera um ônus financeiro e de gestão.

Desafios principais:

• Capacidade de atendimento: O hospital está sobrecarregado com um número de pacientes bem superior à capacidade de suas alas, o que pode prejudicar a qualidade do atendimento e aumentar o risco de complicações.

• Falta de recursos financeiros: Os atrasos nos pagamentos e a suspensão de procedimentos eletivos indicam dificuldades de financiamento. Isso pode afetar ainda mais o atendimento de pacientes e a reputação da instituição.

• Escassez de serviços: A suspensão de procedimentos não urgentes pode agravar a situação dos pacientes que precisam de tratamento imediato, mas não são considerados casos de emergência.

Possíveis medidas:

1. Priorizar atendimento: Focar nos pacientes com maior gravidade ou necessidade de tratamento imediato, de acordo com protocolos de triagem.

2. Buscar apoio financeiro: O hospital pode tentar buscar recursos adicionais, como parcerias com outras instituições, apoio governamental ou financiamento privado para reduzir os atrasos nos pagamentos e melhorar a capacidade de atendimento.

3. Ampliar a gestão de pacientes residentes: Procurar maneiras de lidar com os pacientes residentes de forma mais eficiente, talvez considerando alternativas para encaminhamento a outras instituições ou para realização de procedimentos em etapas, se possível.

4. Revisão das cirurgias eletivas e protocolos de urgência: Reavaliar a programação de cirurgias e garantir que os recursos mais críticos estejam sendo alocados para os casos mais urgentes.

A situação exige um gerenciamento cuidadoso para garantir que os pacientes recebam o melhor atendimento possível dentro das limitações atuais.

A declaração da diretora-presidente e do diretor técnico aborda a necessidade de ajustes financeiros para a Santa Casa, especialmente no que diz respeito à tabela de pagamentos do SUS. Em 2007, a tabela foi aprovada e publicada, mas desde então não sofreu nenhum reajuste, o que compromete a sustentabilidade financeira da instituição, que está lidando com a alta demanda de pacientes, incluindo aqueles que necessitam de internações prolongadas.

A diretora mencionou que, com base nos cálculos, seria necessário um aumento nas tabelas, passando de 2,6 para 4, para que a Santa Casa possa garantir um atendimento de qualidade. Como alternativa para complementar os recursos necessários, a instituição tem buscado outras fontes de financiamento, como escolas de saúde, planos de saúde regulados e não regulados, além de atendimentos particulares.

O diretor técnico também destacou um desafio específico: em 2024, a média de 4 pacientes residentes, ou seja, aqueles que permanecem por mais de 90 dias, resultou em um gasto significativo de 400 mil reais. Ele enfatizou que esses recursos poderiam ser utilizados em outras áreas, mas, devido à falta de uma retaguarda adequada, esses pacientes precisam permanecer por períodos excessivamente longos no hospital.

Essas declarações revelam um cenário de pressão financeira e a busca por soluções para melhorar a qualidade do atendimento sem comprometer a saúde financeira da instituição.

HOSPITAL SANTA CASA

A Santa Casa de Campo Grande é, de fato, o maior e mais importante hospital do estado de Mato Grosso do Sul, com uma longa trajetória de atendimento à população. Localizado em uma área central da cidade, compreendendo o quadrilátero das ruas 13 de Maio, Mato Grosso, Rui Barbosa e Eduardo Santos Pereira, o hospital atende a uma grande diversidade de pacientes.

A instituição tem um perfil de atendimento predominantemente público, com 90% dos pacientes sendo atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 10% por meio de planos de saúde privados como Santas Casa Saúde, Caixa, Correios, Cassems, Unimed, entre outros. A entrada do hospital é diferenciada: pacientes do SUS acessam a unidade pela Avenida Eduardo Santos Pereira, enquanto os pacientes de planos de saúde e particulares entram pela Avenida 13 de Maio.

Fundada em 1917 e com a construção do hospital iniciada em 1924 e concluída em 1928, a Santa Casa de Campo Grande desempenha um papel crucial no atendimento à saúde da região. O hospital está estruturado para oferecer uma vasta gama de serviços médicos e possui 704 leitos operacionais, sendo a maioria destinada ao atendimento do SUS. Entre os serviços destacados estão:

• Pronto Atendimento Adulto, Pediátrico e Obstétrico, atendendo tanto o SUS quanto pacientes de convênios e particulares.

• Salas de estabilização para adultos, crianças e gestantes.

• Uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de alta complexidade, com 80 leitos para adultos, 14 para crianças e 18 para recém-nascidos.

• Leitos especializados para cuidados intermediários neonatais, como a UCINCo e UCINCa, que são essenciais para o atendimento de recém-nascidos em estado crítico.

O hospital é um pilar fundamental para a saúde de Campo Grande (69% dos pacientes), mas também atende a uma parcela significativa da população do interior do estado (30%) e até de outros estados e países (1%).

Essa estrutura e a vasta capacidade de atendimento fazem da Santa Casa de Campo Grande um hospital essencial, com grande importância para a saúde pública e privada de Mato Grosso do Sul.

 

 

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